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Companhia Raízes comemora 24 anos de “amor e luta” pela cultura popular nordestina

  • Foto do escritor: Abarca Cultural
    Abarca Cultural
  • 1 de jul. de 2019
  • 4 min de leitura

Atualizado: 12 de mar. de 2020

Por Cristiane Albuquerque



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Foto: Raízes

É com um “grito de guerra” característico que, a cada apresentação, a Companhia Raízes de danças folclóricas entra em cena com a missão de fortalecer a cultura tradicional brasileira através de uma leitura contemporânea própria. O grupo campinense, que completou neste mês de junho 24 anos, tem como um dos principais desafios propagar o saber popular no contexto das comunidades locais, especialmente junto aos jovens paraibanos da cidade de Campina Grande.


Fundada por dissidentes de uma companhia que lhe precedeu, o Raízes despontou no cenário regional com a proposta de dar ênfase às danças tipicamente nordestinas como o xaxado, baião, bumba meu boi, ciranda, coco, cavalo marinho, entre outras. De acordo com um de seus fundadores, Ronildo Cabral, esse posicionamento vem afirmar o objetivo principal do grupo que é “explorar o saber tradicional da região”.



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Foto: Raízes

Ronildo conta que no início foi um grande desafio para os 20 membros da recém formada companhia. “Passamos a encarar nosso trabalho com mais seriedade. Começamos a pesquisar. Queríamos fazer um movimento de resgate, de raiz. Então, surgiu um novo mundo na nossa frente. Ganhamos nós e ganhou também a sociedade de Campina Grande, pois se fez oportuno o surgimento de um grupo com essas características, com esse diferencial” coloca.


Além de figurar em edições anteriores do “Maior São João do Mundo”, ao longo dos anos o Raízes vem se apresentando em diversas festividades espalhadas pela Região Nordeste. No contexto nacional o grupo marcou presença em eventos importantes como o Festival de Olímpia em São Paulo e o Encontro Nacional de Teatro Comunitário na cidade do Rio de Janeiro. Já no âmbito internacional figurou em festivais renomados na França e Bélgica, levando a força do nordeste brasileiro para o Velho Mundo.


No entanto, conseguir recursos para essas viagens nunca foi tarefa fácil segundo Cabral. “A gente sempre deu muito duro, especialmente em viagens internacionais. Pra podermos ir pra Europa por exemplo tivemos que fazer pedágio, feira, brechó, feijoada. Nós chegamos lá muito cansados ... quase mortos (risos), mas foi bem gratificante” relembra.


Para ele essa troca de experiências é extremamente válida, mas a falta de incentivo dos governos municipal, estadual e federal tem se tornado um entrave, dificultando o trabalho dos grupos folclóricos e impedindo que a linguagem da tradicional dança popular seja expandida para além de suas fronteiras. “Enfim, a gente não tem uma política direcionada pra isso. Tipo editais voltados a esse fim. Ai a gente tem que sair com o pires na mão” desabafa.



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Foto: Raízes

Com relação ao São João de Campina Grande Ronildo elogia a iniciativa do governo municipal, mas faz uma crítica a organização do evento no que diz respeito ao espaço concedido aos grupos de dança folclórica no contexto da programação do Parque do Povo. Para ele uma festa que foi idealizada com o intuito de celebrar a cultura popular tradicional poderia dar um destaque maior a esses grupos, já que todos se constituem a partir de um trabalho voltado exclusivamente para esta proposta. No entanto, de acordo com o fundador do Raízes, na maioria das vezes as apresentações das companhias se limitam a horários ou espaços físicos inconvenientes, incompatíveis com a riqueza das performances apresentadas.


Somos cinco grupos de peso, de nome, de pesquisa. O Raízes e a Companhia Livre são os mais novos, mas temos ainda os precursores Caetés, Acauã da Serra e Tropeiros da Borborema. Se você for em outras cidades por aí você não encontra um número tão grande de grupos, com um trabalho sério e duradouro, com tanta riqueza como você encontra aqui em Campina Grande. Mas falta às iniciativas pública e privada um olhar mais voltado ao que é nosso, de valorização, de reconhecimento. E termina que os grupos de dança folclórica perdem com isso, mas infelizmente a cidade perde muito mais” desabafa.


Cabral ainda aproveita o ensejo para fazer um apelo à mídia local, especialmente aos jornalistas, para que durante os festejos juninos estejam mais atentos aos trabalhos de artistas e movimentos culturais da terra.


Uma das preocupações de Ronildo é que a cultura popular nordestina venha a “se perder no esquecimento” em meio ao contexto pós moderno da Industria Cultural de Rede onde tudo que existe tem se tornando cada vez mais superficial e efêmero. “Os jovens não ouvem mais falar do bumba meu boi, do cavalo marinho, do coco, do xaxado. Acredito que era pra molecada de hoje ter uma intimidade com isso e não uma estranheza. Como eu vou estranhar uma coisa que é minha? Uma cultura que é nossa? São nossas raízes, formadora do que somos. E infelizmente as nossas crianças estão crescendo sem essa identidade”.



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Foto: Raízes

Pensando nisso o Raízes tem investido em iniciativas voltadas aos jovens, especialmente residentes na cidade de Campina Grande. Uma das ações mais relevantes do grupo foi o “Encontro de Culturas Raízes do Amanhã”, um projeto inicialmente aprovado pelo governo federal direcionado a alunos do município. Durante o período de três anos foram oferecidas aulas teóricas e práticas sobre cultura popular e danças tradicionais a um número sempre crescente de interessados. No entanto, com a mudança de governo em 2016, sem qualquer justificativa, a parceria foi “abandonada” e o projeto foi interrompido. “Sem dinheiro pra pagar os oficineiros não tivemos como continuar, mas nossa intenção é retomar esse trabalho o mais breve possível, independentemente da parceria” afirma Cabral.


Na visão dos membros do grupo a renovação da cultura popular nordestina passa necessariamente pelo empoderamento identitário dos jovens como uma forma de “manter a chama acesa” para as próximas gerações.


Com o objetivo de contribuir com o acesso cada vez mais fluido à tradição local, o Raízes comemora seus 24 anos de “estrada” com a montagem de uma performance que mescla algumas das principais danças nordestinas, dando destaque, porém ao xaxado e ao cavalo marinho. Neste mês de junho a Companhia se apresentou no Parque do Povo, no “São João de Esperança” e em dois eventos acadêmicos que aconteceram na FIEP (Federação das Indústrias do Estado da Paraíba) e no Garden Hotel.

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