Arraial Urbano: 36 anos do “Maior São João do Mundo” em Campina Grande
- Abarca Cultural
- 1 de jul. de 2019
- 4 min de leitura
Atualizado: 10 de mar. de 2020
Por: Cristiane Albuquerque

Reconhecida como uma das festas populares mais respeitadas do cenário nacional, o “Maior São João do Mundo” chega à sua 36° edição repetindo uma receita que tem dado certo ao longo do tempo. Através de um jogo hibrido que mescla o tradicional ao contemporâneo, o evento se renova a cada ano, traduzindo expressões culturais do passado por meio de interações próprias do presente.
A tradição de festejar os santos juninos, comum no nordeste brasileiro, vem desde o período colonial. Porém, na cidade paraibana de Campina Grande esse costume popular superou as antigas celebrações de bairro e se tornou um megaevento de projeção nacional e internacional.
A festividade, em sua versão contemporânea, teve sua primeira edição no Parque do Povo em junho de 1986, quando o espaço foi inaugurado pela administração pública local. Com área suficiente para montagem de um “arraial cinematográfico”, o evento se consolidou como uma festa tradicional nordestina inserida no contexto pós moderno da Indústria Cultural.
O que poucos sabem é que esse costume popular de comemorar a passagem dos santos juninos tem origem em antigas celebrações pagãs que anunciavam os solstícios de verão e inverno e homenageavam os deuses da natureza. Porém, ao serem introduzidas no Brasil Colonial pelos portugueses esses festejos já se encontravam profundamente influenciados pelo cristianismo (a partir de uma perspectiva eminentemente católica).

Santo Antônio, São João e São Pedro foram os ícones escolhidos para serem celebrados entre os dias 12 e 28 de junho. O primeiro deles, Antônio de Pádua, era um franciscano que viveu entre o final do século 12 e início do século 13 - sendo posteriormente considerado doutor da Igreja Católica. O segundo, João Batista, foi um pregador judeu que de acordo com as escrituras do Novo Testamento batizou Jesus nas águas do Rio Jordão. Já o apóstolo Pedro, último homenageado de junho, é considerado o primeiro bispo de Roma.
Na região Nordeste as celebrações europeias foram aos poucos se mesclando aos elementos próprios das tradições sertanejas. Nesse contexto a fogueira de São João dialoga com o tradicional “forró arrasta-pé” que, em meio meio as animadas quadrilhas de bairro, se destaca sob a luz dos fogos de artifício e o aroma de uma infinidade de comidas típicas.
Em Campina Grande as comemorações juninas dão os primeiros indícios de centralização a partir de meados dos anos 70 quando a Prefeitura Municipal propõe unificar os festejos em dois espaços principais: o Parque do Açude Novo e o Pátio da Estação Velha. Com o passar dos anos o evento tomou um cunho turístico expressivo e em 1983 é unificado e transferido para um terreno baldio popularmente conhecido como “Coqueiros de José Rodrigues”. No ano seguinte o slogan que lhe projetou no cenário nacional foi criado, o “Maior São João do Mundo”, concebido como uma festa popular globalizada que chega a ter trinta (30) dias de duração.
Com a construção do Parque do Povo, o festejo se consolidou como um megaevento. Novas atrações cenográficas foram montadas, sendo inaugurados respectivamente: o Trem Forroviário (1989); a Cidade Cenográfica (1995); a Rua da Imprensa juntamente as Ilhas de Forró (1197); e o Sítio São João (1998). Além disso, algumas casas de show foram construídas com objetivo de atender a demanda turística, tendo como destaque: Spazzio, Forrock, Vila do Jatobá e Vale do Jatobá.

Os jornais locais passaram a publicar suplementos especiais tratando exclusivamente da festa. Campanhas publicitárias foram empregadas em nível nacional e internacional. Em pouco tempo a notícia do o “Maior São João do Mundo” chegou aos mais variados recantos do país e do exterior.
No Parque do Povo o antigo festejo familiar se transfigurou em um arraial urbano, reunindo em um só tempo e espaço o saudosismo da tradição nordestina e a dinâmica multicultural da pós modernidade. Através de uma estrutura gigantesca o cenário, que é montado anualmente, recria o ambiente de uma cidade arcaica constituída por uma diversidade de barracas que juntas formam charmosas ruelas de nomes próprios. Para completar esse ambiente onírico são montadas réplicas de prédios importantes como a Igreja da Catedral e o Cassino El Dourado, além de ilhas de forró e palcos ultramodernos. Já a fogueira cenográfica, de cerca de 20 metros de altura, e o Casamento Coletivo são atrações à parte que sempre chamam atenção dos turistas.

Ao promover seus festejos juninos a cidade de Campina Grande se projetou de tal forma que o “Maior São João do Mundo” foi reconhecido pela EMBRATUR (Instituto Brasileiro do Turismo) como uma das principais festas populares do país, passando a figurar no Calendário do Turismo de Eventos.
Nesse contexto, sua manutenção tem se tornado fundamental para o caráter econômico da cidade, pois sustenta todo um grupo de empreendedores ligados aos mais diversificados ramos como empresarial, comercial, hoteleiro, etc. Além dos empregos formais criados nesse período é expressivo o número de trabalhos informais, abrigando desde montadores de cenário a vendedores de comidas típicas e artesanato.
Tendo como eixo o fomento econômico local centrado no turismo, os tradicionais festejos juninos, a cada ano, vão se adequando a demanda corrente imposta pela Indústria Cultural. Contudo, longe de se descaracterizar a “autêntica cultura popular nordestina” é constantemente reinterpretada por seus “atores locais”. Através de uma criatividade singular a população campinense segue exibindo “traços culturais próprios” em meio ao diversificado conjunto das manifestações populares brasileiras.
Em sua versão 2019 o “Maior São João do Mundo” conta com um grupo de artistas de estilos ainda mais diversificados, reafirmando assim o ambiente multicultural do festejo.
O cantor Santana abriu o evento no último dia 7 de junho. Já a noite de São João (24) foi consagrada pela artista paraibana Elba Ramalho que comemorou seus 40 anos de carreira. E para encerrar a programação Marília Mendonça se apresenta no próximo domingo, dia 7 de julho.
Entre as figuras cativas presentes em edições anteriores encontramos nomes como: Biliu de Campina, Genival Lacerda, Os Três do Nordeste, Flávio José, Alceu Valença, Amazan, Coroné Grilo, Capilé, Ton Oliveira entre outros. Já os grupos de danças folclóricas que se apresentam durante todo o evento formam uma atração à parte reavivando de forma performática as tradicionais danças populares. São eles: Companhia Raízes, Tropeiros da Borborema, Acauã da Serra, Caetés e Companhia Livre.
Referências Bibliográficas
LIMA, Elizabeth Christina de Andrade. Fábrica dos Sonhos: a invenção da festa junina no espaço urbano. Ideia. João Pessoa, 2002
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