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Blá, blá, blá!

  • Foto do escritor: Abarca Cultural
    Abarca Cultural
  • 17 de ago. de 2019
  • 2 min de leitura

Atualizado: 10 de mar. de 2020


Coluna do Zé

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Foto: copyleft/google images

Por Zé Wendell


Agora todo mundo resolveu falar. E o pior, estão sempre cheios de razão. Convictos do que falam. Embora, na maior parte do tempo, só falem tolices. Mas não tem jeito. A presunção vence. É o primeiro sintoma da cretinice. Acontece que hoje resolvi fazer uma experiência. Decidi me calar e só escutar. Desastre total. Primeiro que me transformaram numa espécie de “qualquer coisa banal”. Certamente acharam que eu estava deprimido por estar tão calado. Que saco! Segundo, e mais cruel, foi perceber o tanto de horas que perdemos falando uns dos outros ou tentando convencer uns aos outros da “vida real”.


A verdade é que mesmo calado fui minado por uma questão que até agora não quer me deixar. E enquanto “viro língua” me debatendo de um lado para o outro, tentando dormir antes do dia clarear, me sinto como um personagem do Kafka, lutando para não “bestar”. Acontece que algo não me desceu muito bem e o que me disseram nem era tão absurdo, mas sabe quando um desses cretinos transbordando de empáfia chegam para você e soltam aquela frase na máfia: “eu no seu lugar faria diferente...” Na hora eu pensei: “Esse cabra só pode ser demente”.


Mas calado estava, calado fiquei. E como diz o provérbio de Salomão “quem guarda a boca preserva a vida. Quem muito fala traz sobre si a ruína”. Santa piedade cristã! Salvou o cretino da dentada do cão raivoso. E o mais terrível de tudo não é só ouvir esse tipo de asneira. É saber que tem gente que só abre a boca pra dizer besteira.


Para enganar na hora me disfarcei de mercador, mas por dentro estava só o estopô. “Vem cá, por acaso pedi tua opinião?” Queria ter falado, mas essa frase ficou só na imaginação. Quis ser cordial, educado e coisa e tal, mas não adiantou de nada. A frase está até agora latejando no córtex cerebral. Tudo bem. Talvez o meu silêncio tenha evitando a morte do cidadão. Mas não me salvou da desastrosa maldição proferida por aquela língua suja e venenosa, dessas, tipo “língua de cobra”. O sujeito me contaminou a tal ponto com o que disse que agora estou tomado de um desassossego, a ponto de ligar o computador e escrever um desses textos e nas redes sociais postar.


Mas para evitar o bafafá vou ficar por aqui até essa onda passar, torcendo para que a humanidade termine muda depois de tanto blá, blá, blá. Enquanto isso continuarei o exercício de me calar, na dança do dia a dia, dois pra lá e dois pra cá. Aprendendo com os sábios a sabedoria. Tentando matar a maior charada do “ocidente fantasia”, que é a danada da pergunta que não quer calar: porque que os cabra besta só querem saber de falar e nada de escutar?




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Foto: arquivo Zé Wendell




José Wendelll Soares é bacharel em Interpretação pelo curso de Artes Cênicas da Unirio-RJ (2004-2009). Atualmente integra a Cia Omondé de Teatro do Rio de Janeiro.

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