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AUTO DE JOÃO DA CRUZ

  • Foto do escritor: Abarca Cultural
    Abarca Cultural
  • 13 de fev. de 2020
  • 5 min de leitura

Atualizado: 10 de mar. de 2020

O desafio de montar um espetáculo teatral no Brasil de 2020



Coluna do Zé

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Por Zé Wendell


Não é novidade pra ninguém que fazer arte no Brasil está cada vez mais difícil - vide o desmonte cultural por parte de alguns governantes. Entre os tantos absurdos provenientes desse “desgoverno” está a censura (imposta à artistas e criadores - limitando suas obras); sem falar na extinção de vários editais de incentivo à cultura (que nem cabe citá-los aqui).


Enfim, nesse cenário de guerra (onde poucos sobrevivem ganhando algum dinheiro com “suas artes” e muitos resistem por “necessidade vital”), venho lhes falar de um milagre que temos vivenciado no Teatro Brasileiro - mais especificamente na cidade do Rio de Janeiro. Milagre este chamado AUTO DE JOÃO DA CRUZ (um texto escrito em meados de 1950 pelo mestre Ariano Suassuna e montado na capital carioca pela Cia de Teatro OmondÉ - que está em cartaz até o dia 16/02 no Teatro Sesi Firjan).




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Foto: Cia OmondÉ

Eu me chamo Zé Wendell e escrevo para esse blog - ABarca Cultural. Andava meio sumido nas produções textuais, mas agora estamos retomando os trabalhos. E para isso resolvi contar sobre minha experiência como um dos atores desse novo espetáculo.


Sou paraibano e há alguns anos vivo no Rio de Janeiro. Desde que cheguei por aqui que faço teatro. E junto com um time de nove artistas montamos a Cia de Teatro OmondÉ, sob a batuta da atriz e diretora Inez Viana.


Começamos essa jornada em 2009 com o espetáculo “As Conchambranças de Quaderna”, também escrito por Ariano Suassuna. A peça, montada sob encomenda para o FITA (FESTIVAL INTERNACIONAL DE TEATRO DE ANGRA), foi produzida para duas únicas apresentações no próprio festival. Mas, “nosso santo é forte” e não é que deu borogodó.


Resistimos juntos até hoje. Desse espetáculo nos tornamos uma companhia que já viajou em turnê por vários estados do Brasil. Já são oito espetáculos em nosso repertório. Todos os textos de autores nacionais. No elenco da Cia temos atores representantes de alguns estados brasileiros como: Paraíba, Rio Grande do Norte, Minas Gerais e Rio de Janeiro - mantendo assim nossa pluralidade cultural e nosso compromisso com a diversidade.



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Foto: Cia OmondÉ


Para comemorar os dez anos da OmondÉ ganhamos de Manuel Dantas Suassuna, filho de Ariano, o texto “AUTO DE JOÃO DA CRUZ”, uma tragicomédia escrita pelo autor no auge dos seus 23 anos de idade e que antecede o clássico “Auto da Compadecida”. O texto é uma recriação do “Fausto”, de Goethe, cuja trama traz elementos de três romances populares nordestinos – História de João da Cruz; História do Príncipe do Reino do Barro Branco e a Princesa do Reino do Vai-não-Torna; e O Príncipe João Sem Medo e a Princesa da Ilha dos Diamantes — de Leandro Gomes de Barros, Severino Milanez da Silva e Francisco Sales Areda, respectivamente.


A peça conta a história de João, jovem ambicioso que, inconformado com a ausência do pai e com a miséria em que vive, resolve sair de casa, deixando tudo para trás, em busca de riquezas. O Guia (espécie de diretor da peça) e o Cego (aqui simbolizando o Diabo) fazem, então, uma aposta pela alma de João que, ilusoriamente, passa a ter tudo que deseja. Ao mesmo tempo em que vai perdendo sua humanidade, João vai se distanciando da família e dos amigos e se transformando em um homem frio e perverso. Quando, enfim, recobra a consciência, já é tarde demais para se arrepender dos males que causou.



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Foto: Cia OmondÉ

João da Cruz é o homem que se perde em si mesmo. Cego pela ganância e fome de poder, João é (em essência) a representação da ambição desmedida, da ganância megalômana do homem capitalista.






Para montar esse projeto contamos com o patrocínio do Sesi Firjan Rj. Do contrário seria impossível realizar a montagem. Como disse, não há mais editais de incentivo à cultura, salvo algumas exceções como, por exemplo, o edital da Oi e o Itaú Cultural - mas que ainda assim tem suas especificidades e não contemplam determinadas produções, tampouco dão conta da quantidade de projetos artísticos inscritos.


O Auto de João da Cruz é um texto potente e atual, que traz em sua essência um questionamento crucial aos dias de hoje: até que ponto o homem se vende para conseguir o que quer? Qual é o mínimo para ser feliz? O que você seria capaz de fazer para conquistar os bens materiais que deseja? Essas são algumas das questões abordadas pelo escritor e que caíram como uma luva para nossa montagem. Vide nosso cenário político atual.



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Foto: Cia OmondÉ


Aproximar essa fábula aos dias atuais foi um dos nossos maiores desafios. Como adaptar um texto de 1950, com uma linguagem poética, existencial e ao mesmo tempo carregada de humor e ironia? Como dizer esse texto de forma que a plateia compreenda e acompanhe a história? Antes de tudo, foi preciso revisitar o autor e, apesar da tragicidade do texto, se apegar ao universo cômico do Ariano Suassuna (buscando entender o universo simbólico e arquetípico dos personagens). Como o próprio autor escreve no texto, essa obra é um apelo à imaginação da plateia que embarca na história como co-participante.


Ensaiamos intensamente durante dois meses e meio, seis horas por dia, muitas vezes de segunda a sábado. E voalá! A mágica do teatro aliada a competência de uma equipe de oito atores, uma diretora e mais treze profissionais entre ficha técnica, produção e assessoria de imprensa. No elenco, além dos atores da Cia OmondÉ, contamos ainda com a presença de convidados. Em cena temos: André Senna, Elisa Barbosa, Iano Salomão, Júnior Dantas, Leonardo Bricio, Luis Antonio Fortes, Tati Lima e Zé Wendell.






Missão cumprida. Milagre realizado. E uma lição para a vida: não existe milagre sem esforço.


Continuamos em cartaz, fazendo muito sucesso. Caminhamos para nossa última semana com um público assíduo, participativo e crescente. Nossa próxima temporada será em São Paulo, ainda este semestre. Fica a você o nosso convite.


Esse é só o começo de uma longa trajetória de sucesso e que venha o Nordeste.

Oremos!



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Foto: Cia OmondÉ

Ficha Técnica

“Auto de João da Cruz”


Texto: Ariano Suassuna

Direção: Inez Viana

Elenco:

André Senna

Elisa Barbosa

Iano Salomão

Junior Dantas

Leonardo Bricio

Luis Antonio Fortes

Tati Lima

Zé Wendell


Direção de movimento: Denise Stutz

Iluminação: Ana Luzia de Simoni

Figurino: Flavio Souza

Consultoria cenográfica: Nello Marrese

Cenotécnico: André Salles

Consultoria musical: Fábio Campos

Assessoria dramatúrgica: Carlos Newton Jr.

Assistente de direção: Joel Tavares

Programação visual: André Senna

Fotografia, vídeo e redes sociais: Rodrigo Menezes

Assessoria de imprensa: Paula Catunda e Catharina Rocha

Produção: Eu + Ela Produções Artísticas e Pé de Vento Produções

Direção de produção: Douglas Resende

Produção executiva: João Paulo Rodrigues

Diretor de Palco: Mateus Ribeiro

Realização: Cia OmondÉ




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Foto: Cia OmondÉ

Tetro Firjan Sesi Centro - RJ


Espetáculo: “Auto de João da Cruz” Temporada: De 16 de janeiro a 16 fevereiro 2019

Dias e horários: De quinta a sábado, às 19h. Domingo, às 18h Local: Teatro Firjan SESI Centro | Rua Graça Aranha, 1 – Centro

Informações: (21) 2563-4163 Lotação: 350 lugares Ingressos: R$ 40 (inteira) e R$ 20 (meia)

Classificação: 14 anos Duração: 90 min.

Bilheteria: De segunda a sexta, das 11h30 às 19h30. Aos sábados e domingos de espetáculo, 2 horas antes do início.











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José Wendell Soares é bacharel em Interpretação pelo curso de Artes Cênicas da Unirio-RJ (2004-2009). Atualmente integra a Cia Omondé de Teatro do Rio de Janeiro.

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