O Corpo
- Abarca Cultural
- 30 de abr. de 2020
- 2 min de leitura
Em meio à quarentena que os brasileiros têm vivenciado nos últimos tempos, muitos artistas vêm buscando contribuir para tentar “suavizar” a difícil experiência de um isolamento social prolongado. Tendo a internet e, especialmente, a criatividade como um dos principais aliados, esses verdadeiros “guerreiros culturais”, a cada dia, se reinventam: inovam, provocam, superam expectativas e nos surpreendem.
E para pensar sobre as possíveis consequências causadas pela privação de contato social, o ator e diretor Zé o Wendell nos apresenta “O Corpo”. Na performance (de pouco mais de dois minutos) a personagem chama atenção para algumas necessidades básicas "daquele que é o instrumento primordial que nos faz existir no mundo".
Na visão do artista esse corpo, "demasiadamente humano", é mostrado como "um tipo de ente" - feito de carne e osso - que "há muito nos pretende falar, mas que hoje, como nunca, parece nos querer gritar".
A direção, atuação e edição é de Zé Wendell.
Confira "O Corpo" de Zé!
E reflita sobre o seu próprio corpo!
O Vídeo está disponível no canal de ABarca Cultural no Youtube.
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Abaixo segue o texto na íntegra:

O Corpo
Quer gritar
Quer existir
Mas ultimamente anda meio ressabiado.
Está calado, inerte
Anda por ali pelos cantos como que confabulando consigo mesmo em busca de algo.
Acontece que nesse momento o corpo fora isolado, afinal está precisando de alguns reparos.
Parece dor, parece amor.
Mas a verdade é que o único diagnóstico é o da incerteza.
Ele pode estar sofrendo de qualquer coisa, até mesmo de uma leve dor de cabeça.
Portanto, não sinta pena, este corpo só está de quarentena.
Afinal é preciso reinventá-lo
Pois vivia por aí como bicho solto, desencontrado.
E na via do desassossego,
entre o eixo e o desleixo,
tem buscado no silêncio de sua nova rotina
Se livrar daquela sina de corpo abandonado.
Por aqui ele tem alternado, por vezes agitado, ora para lá, ora para cá, falando sobre tudo e sobre todos
Atirando palavras para todos os lados.
Até que de tanto falar acaba novamente calado.
É curioso e contraditório.
Mas não se esqueça: embora não pareça, com certeza ele está bem da cabeça.
É só mais um desses instantes em que os olhos “do cabra” dão aquela revirada para dentro e o que era tormento vira uma espécie de unguento,
que segundo os estudiosos é o melhor tratamento para a cura de qualquer sentimento.
E não tenha dúvida que esse corpo, embora esteja emoldurado na rede, nunca será leiloado!
Pois sofre, mas sofre de outra sede!
Se você olhar bem direitinho e com um pouco de carinho, verá que mais que dois braços, um dorso e uma cabeça, existe aí um monte de coisa sobreposta em camadas expressas, num aglomerado aparentemente básico.
Mas com certeza é só mais um corpo humano tentando ocupar o próprio espaço.
É revolução e guerra. É fogo, mas não é fátuo.
É presente, é passado,
É loucura, é sanidade
É bicho, é homem, é carne
É profano e sagrado
É Deus e já foi até diabo
É dor, é agouro
É ode, é choro
As vezes nó, as vezes laço
Mas no fundo como qualquer outro corpo,
esse só faz gritar:
é preciso amar
para ser amado.
(Zé Wendell)
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